Joint collaboration with Isa Peixinho.
A decisão de realizar um projecto de investigação sobre Jorge Palma (JP) não foi, de todo, fácil. A primeira questão que se colocou foi a de saber o que abordar, que problemática definir, que campos de actuação e de observação delimitar. O assunto JP parecia-nos, e continua a parecer-nos ainda hoje, riquíssimo, quase inesgotável e susceptível de variadíssimas abordagens. Parecia-nos importante fixar algumas. Realizar, então, um trabalho numa perspectiva mais musicológica, antropológica, ou literária? Da perspectiva do músico ou mais centrada na recepção, na perspectiva do ouvinte e fãs? Enfim, muitas questões se poderiam colocar e nenhuma menos pertinente que outra.
Para começar, JP é um ídolo. Um ídolo transgeracional, um artista marginal, um homem como os outros, mas afinal, sempre do lado errado da noite. E para tratarmos esta questão teríamos que partir do facto de nós próprios sermos seus “Fãs” (conceito que, também, mais à frente será desenvolvido) e de, portanto, termos um envolvimento emocional com ele e com a sua obra. Havia, então, que nos libertar dos nossos preconceitos, tentando canalizá-los para a construção de perspectivas interessantes e pertinentes para o estudo de JP.
A nossa observação não pretende ser detentora de uma verdade objectiva e irrefutável mas de uma subjectividade objectivante, que execute uma espécie de reciclagem da imagem que, foi sendo construída em nós ao longo dos anos. Estaríamos a mentir se afirmássemos que essas mudanças, quais movimentos interiores, não foram acompanhadas de alguma dor. É como se se quebrasse o laço que une o nosso imaginário às músicas de JP. Assim, foi necessário adoptar uma nova forma de escuta, de audição, não apenas em nossas casas, mas também nos concertos. Recomendamos a audição dos álbuns ao vivo para que se sinta a energia desses concertos e se atente, em particular, nos improvisos, na fífia que sai e a forma como a volta é dada, bem como dos outros álbuns para que se compreenda as tipologias orquestrais que foram sendo fixadas nesses trabalhos ao longo dos anos.
A sua postura, a irreverência das suas letras e simultaneamente as verdades nelas contidas, as histórias narradas, tão próximas de qualquer ouvinte, um piano a explodir acordes, uma voz rouca e inconformada, fazem de Jorge Palma um ícone e um exemplo que nos inspira. Inspira-nos a sermos melhores pessoas, faz-nos reflectir sobre o mundo. Como fugir disso? Mas sobretudo desperta-nos a curiosidade por detrás do fenómeno. Como pode um artista estar dez anos sem gravar um álbum e continuar a coleccionar fãs nas novas gerações? O que leva esse mesmo artista que, andou a tocar pelas ruas e no metropolitano de Paris, a ir completar o curso do conservatório aos quarenta anos de idade, quando já era um nome consagrado da música? Como e de que forma afinal essa formação clássica influencia a construção do seu repertório? E, olhando para esse mesmo repertório, como enquadrá-lo e contextualizá-lo no panorama musical nacional e internacional?
O trabalho que decidimos apresentar pretende ser a intersecção da vida e obra de JP com os processos e métodos de composição e a análise da sua postura como músico na sociedade, bem como de algumas músicas, em particular, que servirão para ilustrar algumas das teses aqui defendidas. No fundo, tentando manter a problemática inicial – a de averiguar a existência de uma vontade de intervir socialmente – tentámos construir um trabalho que abarcasse e focasse o maior número de informação possível sobre JP e, que lhe conferisse o já merecido reconhecimento. Sendo um trabalho preliminar, com uma investigação de curta duração e, portanto, focalizada, não são reivindicadas leituras definitivas das questões aqui levantadas. Esperamos, no entanto, estar a abrir portas para futuros trabalhos de nossa autoria ou de outros.
A entrevista completa pode ser consultada aqui.